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Oh não… Algas! E agora?

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Diogo Matias
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MensagemAssunto: Oh não… Algas! E agora?   Oh não… Algas! E agora? EmptySeg 15 Mar 2010, 19:36Responder ao tópico

As algas são classicamente consideradas o maior inimigo do aquascaper. Mas mesmo quem não tem interesse genuíno no aquascaping as acha uma praga que deve ser erradicada. E pudera! O seu aspecto pode arruinar qualquer aquário.

Então e quando elas surgem, o que fazer?
A pergunta certa não é essa, a pergunta certa será, porque apareceram?

Muitas vezes verificamos que o aparecimento de algas coincide com o aparecimento de algum tipo de carência nas plantas, ou pura e simplesmente associado a um decréscimo na sua velocidade de crescimento. Esta associação não é fruto do acaso. Ela está associada à noção de factor limitante (ver Noções básicas de fertilização). Quando as plantas abrandam o seu crescimento ou se apresentam pouco saudáveis permitem que exista uma quantidade de nutrientes disponíveis na coluna de água, superior à existente quando as plantas se apresentam saudáveis, resultante da diminuição da velocidade de absorção de nutrientes. A diminuição da velocidade de absorção de nutrientes por parte das plantas é por isso dos principais factores desencadeadores de infestações de algas. Portanto de modo a conseguirmos escapar ao flagelo das algas, a melhor defesa é o ataque, permitindo às nossas plantas disporem de todos os nutrientes que necessitam para o ideal crescimento.

Anteriormente referi que a diminuição da velocidade de absorção de nutrientes por parte das plantas é uma das principais razoes para o aparecimento de algas. Mas sendo a principal, é porque existem outras a ter em conta. Vejamos algumas delas.

Durante muitos anos os aquaristas especializados em aquários plantados julgaram que eram os excessos de nutrientes na coluna de água que permitiam o aparecimento de algas. Eles não estavam completamente certos, mas também não se encontravam totalmente errados. De facto um excesso de nutrientes disponíveis na coluna de água pode ser um factor desencadeador para o aparecimento de algas, mas apenas em duas situações: associado ao decréscimo na velocidade de absorção de nutrientes ou quando a concentração de nutrientes é efectivamente muito elevada. Estes níveis elevados são variáveis de situação para situação e irei debruçar-me sobre algumas situações de seguida.

Tom Barr um dos mais conhecidos aquaristas dedicados aos aquários plantados decidiu em tempos testar uma teoria sua. Mantendo todos os nutrientes e iluminação em níveis óptimos para o crescimento vegetal, tentou selectivamente aumentar até níveis muito acima dos recomendados cada tipo de macronutrientes. Os resultados foram muito interessantes e devem ser tidos em conta.

“(…) higher levels of PO4 (phosphate), K+, potassium, and NO3 to large extent as well (to 20-30ppm or so) and Fe (iron) can be maintained without any negative effects even at extremely high light wattages (e.g. 5.5 w/gal at 30cm depth, using mirrored reflectors, U shaped power compact lamps-450 micromoles @ 8cm distance from the lights, most submersed aquatic plants fully saturate photosynthesis at 600micromoles/m^2/sec or so, at least the one’s that have been tested at non limiting CO2 values, other species may have different levels).” [Tom Barr]

Portanto, não há nenhum problema em mantermos níveis elevados de macronutrientes (NPK mas também Fe) no que toca ao aparecimento de algas. No entanto há algumas moléculas que quando disponíveis na coluna de água, mesmo em baixas concentrações podem afectar o aparecimento de algas de sobremodo.

A ureia e amónia, resultantes da decomposição de restos de comida, folhas mortas ou mesmo da morte de algum dos habitantes do aquário e também provenientes de excreções são exemplos disso e a sua existência deve ser minimizada ao máximo num aquário plantado. A sua remoção é normalmente conseguida pela porção biológica e eventualmente pela porção química do filtro do aquário, não havendo por isso preocupações quanto a estes elementos quando existe um filtro maturado. Mas durante o período de ciclagem (ciclo do azoto) do filtro, os níveis de amónia podem encontrar-se muito elevados. Nesta fase é sempre conveniente tomar medidas preventivas ao quase inevitável aparecimento de algas, medidas essas que visam a diminuição dos níveis de amónia na água.

Ciclagem sem peixes

A primeira elementar medida está relacionada com a adição de peixes. Nunca se devem colocar peixes (e de preferência também não outros seres vivos, geralmente mais sensíveis) nas primeiras duas a três semanas de ciclagem, uma vez que devido à imaturidade do filtro teríamos um aumento abrupto dos níveis de amónia com prejuízo para o peixe (a amonia apresenta toxicidade para os peixes logo a partir dos 0,1 ppm e para espécies mais sensíveis ainda menos) e para o aquário (as algas adoram amónia). Assim a ciclagem ideal é realizada sem peixes ou com um único peixe resistente introduzido já na fase final da ciclagem.

No entanto a ciclagem não se dará se não fornecermos amónia para o desenvolvimento das colónias nitrificantes, pelo que a adição gradual com aumento ligeiro mas progressivo ao longo da ciclagem de pequenas quantidades de comida ao aquário é o procedimento mais correcto para evitar um aparecimento de algas excessivo.

Remoção de amónia

Já vimos que a amónia causa algas, mas também concluímos que sem um período com amónia na coluna de água não é possível se obter um filtro devidamente maturado. Posto isto o ideal seria manter o nível mínimo essencial de amónia na coluna de água. Isso é conseguido através de algumas medidas simples. A filtragem química poderá ser muito útil nesta fase, alias, é das poucas situações onde recomendo vivamente este tipo de filtragem. O carvão activado, ou de alguns tipos de resinas especiais para a remoção de amónia podem de facto manter os níveis de amónia suficientemente baixos para evitar o aparecimento de algas. Uma medida mais natural e económica passa pelas clássicas trocas de água periódicas, embora algumas pessoas defendam a ausência de TPAs durante o período de ciclagem, esse procedimento apenas deverá ser tido em conta em aquários não plantados. Uma última solução passa pelo uso de plantas flutuantes como a Lemma minor ou a minha preferida Phyllanthus fluitans. Estas são autênticos sorvedoros de amónia e nitratos e têm ainda a vantagem de filtrarem a luz que chega ao aquário, o que poderá ser útil numa fase em que as plantas submersas ainda não estão na sua melhor forma.

Aumento gradual e controlado da velocidade de captura de nutrientes

Como referi, as plantas durante a ciclagem não se encontram na melhor forma. Muitas das plantas que compramos em lojas ou encomendamos via Web encontram-se no estado emerso em que foram cultivadas, sendo necessário um período de adaptação ao estado submerso. Também as suas raízes são muito danificadas quando as removemos da lã protectora e por isso a capacidade de captação de nutrientes pelas raízes está afectada, o que chega a corresponder a uma diminuição da capacidade de absorção de nutrientes de até 90% (variável conforme a espécie). Assim sendo durante o período de ciclagem, as plantas apresentam baixas velocidades de captação de nutrientes, mais um factor de predisposição ao aparecimento de algas. O melhor modo de reduzir o seu impacto, passa pelo ajuste dos níveis de nutrientes e iluminação às necessidades das plantas ao longo do período de ciclagem. Para um aquascaper já experiente estas necessidades são empíricas, no entanto para um iniciante a utilização de testes para a determinação da velocidade de captação de cada nutriente será aconselhada (consultar Noções básicas de fertilização). A redução do fotoperiodo e se possível da intensidade do mesmo é também uma medida razoável, desde que correctamente implementada: aumentos de fotoperiodo não superiores a 1 hora por semana e aumento da intensidade do fotoperiodo acompanhada do aumento de fertilização (com a suplementação de CO2 a ser fulcral nesta fase). O uso de uma boa quantidade inicial de plantas e o seu espalhamento pelo aquário de modo a melhor aproveitar a luz disponível são também medidas úteis para permitir um melhor aproveitamento dos nutrientes disponíveis.

Existem ainda outras situações onde há aumento num determinado local do aquário dos níveis de amónia, o que gera focos localizados de algas. Pode parecer inicialmente estranho, mas numa observação mais cuidada verificamos que geralmente essas zonas correspondem a zonas onde existem folhas mortas, dejectos de alguns habitantes ou restos de comida. Assim três medidas para evitar esta situação são a aspiração do substrato livre aquando das TPAs, remexer os molhos de plantas para tentar libertar as partículas em decomposição que ai possam estar retidas e garantir um bom nível de circulação de água (o máximo possível desde que a natação dos peixes não seja afectada, sendo que prefiro valores próximos dos 10x o volume do aquário por hora).

Noutras ocasiões é também possível que as plantas apresentem carências particulares que conduzam a um abrandamento no seu crescimento. Um exemplo poderá ser o processo de poda, particularmente no caso das plantas de caule. Ao realizar-se um corte na planta, e tendo em conta um processo de poda e replante, obtemos duas porções da planta: uma enraizada no substrato, mas sem zona de crescimento, e outra com zona de crescimento, mas sem raiz. Ambas apresentam um corte na absorção de nutrientes, sendo que a primeira mantém a capacidade de absorção de nutrientes mas vê a sua massa vegetal reduzida substancialmente, e a segunda apresenta um corte na velocidade de absorção de nutrientes semelhante ao referido para as plantas na fase de ciclagem e que nunca é inferior a 30-40%. Esta situação apresenta-se ideal para a proliferação de algas, especialmente numa fase inicial do aquário em que ainda existam poucas plantas. Novamente consegue-se manter o aquário livre de algas pelo simples ajuste das necessidades das plantas: reduzir ligeiramente NPK (pela diminuição das necessidades) e manter o fornecimento de micronutrientes e CO2 (para acelerar a recuperação).

As minhas algas já estão instaladas, o que fazer agora?

Passo nº1: corrigir o que originou as algas. Se não for corrigido, qualquer medida tomada para a diminuição da quantidade de algas será ineficaz. Neste passo inclui-se a garantia de que as plantas dispõem de tudo o que necessitam para crescer saudáveis e eventuais testes à água do aquário.

Passo nº2: remover tantas algas quanto possível. Se tivermos menos algas, acabamos por ter menos trabalho a controlar as que sobrarem. Aqui inclui-se a remoção de folhas afectadas, escovagem de inertes, limpeza de vidros e aspiração do substrato. O uso de H2O2 também pode ser tido em conta.

Passo nº3: acelerar o metabolismo das plantas. Se é luta que querem, é luta que daremos às algas. O aumento do nível de CO2 ou a suplementação de carbono líquido (Flourish Excel por exemplo) leva ao aumento da velocidade de absorção de nutrientes e por isso minimiza o principal factor desencadeador de algas.

Passo nº4: equipa de limpeza. Não fazem milagres, mas ajudam a finalizar o trabalho e podem prevenir algas originadas por pequenos desequilíbrios (não são eficazes em grandes desequilíbrios).

Para mais informação sobre cada tipo de alga e sobre as medidas a tomar contra cada uma delas, consultar Diz-me que algas tens, dizer-te-ei o que fazer.
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